quarta-feira, maio 25, 2005

AOS QUE PARTEM

Partir não justifica
Partir nada constrói
Hoje o herói
é o que fica
Hoje o herói
é o que luta
consigo mesmo
o que conquista
dentro de si
forças a esmo,
pra construir
na sua casa
no seu jardim
na sua cama
no seu trabalho
com o seu braço
com o seu cansaço
com o seu sangue
com o seu povo
um Mundo Novo.

" Manuela Machado,
de "Vermelho-Branco-Negro"


Em resposta a este post do meu Amigo e Camarada Cláudio Alves

: )

terça-feira, maio 24, 2005

Para ti : )

Amo te Amo te Amo te : ) **************
O Diogo ama a Vitória : )
Sai um café curto em Chávena Fria : )

Valsa dum homem carente

Se alguma vez te parecer
ouvir coisas sem sentido
não ligues, sou eu a dizer
que quero ficar contigo
e apenas obedeço
com as artes que conheço
ao princípio activo
que rege desde o começo
e mantém o mundo vivo

Se alguma vez me vires fazer
figuras teatrais
dignas dum palhaço pobre
sou eu a dançar a mais nobre
das danças nupciais
vê minhas plumas cardeais
em todo o seu esplendor
sou eu, sou eu, nem mais
a suplicar o teu amor

É a dança mais pungente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente


Música de Jorge Palma e letra de Carlos Tê

Sem título


Example

Diogo Pacheco

sábado, maio 21, 2005

som! som! sooooooooooooom!

Loucas, loucas, loucas
Andam as galinhas
Para pôr o ovo lá no buraquinho
Raspa, raspa, raspa
P'ra alisar a terra
Pica, pica, pica
P'ra fazer o ninho.


[imaginem isto em canto gregoriano]

Pensamento do Dia

Deus não existe porque simplesmente não existe
hehehehe

Interrogação do Dia

Porque é o porquê do porquê de porque?

Deus continua a não existir hehehehe

Evidências do dia

Uma maçã é uma maçã porque é uma maçã.

Deus não existe hehehehehehehe

Para a Vitória

espero ansioso pelo dia que esta música tenha o seu sentido

amo-te

és linda : )

eu amo-te mais diogo

eu amo-te mais diogo

Espalhem a Notícia

Espalhem a notícia
do mistério da delícia
desse ventre
espalhem a notícia do que é quentee se parece
com o que é firme e com o que é vago
esse ventre que eu afago
que eu bebia de um só trago
se pudesse


Divulguem o encanto
do ventre de que canto
que hoje toco
a pele onde à tardinha desemboco
tão cansado
esse ventre vagabundo
que foi rente e foi fecundo
que eu bebia até ao fundo
saciado


Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
bonita...

A terra tremeu ontem
não mais do que anteontem
pressenti-o
o ventre de que falo como um rio
transbordou
e o tremor que anunciava
era fogo e era lava
era a terra que abalava
no que sou


Depois de entre os escombrosergueram-se dois ombros
num murmúrio
e o sol como é costume foi um augúrio
de bonança
sãos e salvos felizmente
e como o riso vem ao ventre
assim veio de repente
uma criança

Falei-vos desse ventre
quem quiser que acrescente
da sua lavra
que a bom entendedor meia palavra
basta é só
adivinhar o que há mais
os segredos dos locais
que no fundo são iguais
em todos nós

Sérgio Godinho

terça-feira, maio 17, 2005

O Esconderijo do Homem Triste

Não se o que me aconteceu para ficar tão triste.
Lembro-me de ter percorrido meio mundo à procura de imagens. Tinham–me dito: é no movimento incessante de quem viaja que encontrarás a imobilidade que desejas.
Mas eu não sabia para onde ir. Deambulei anos a fio, e nunca encontrei as imagens que queria. Gastei as parcas forças que tinha neste trabalho, até que um dia me perdi junto ao mar.
Resolvi construir, ali mesmo, uma casa.
Tencionava não sair mais daquele lugar onde me perdera. Imobilizar-me, viver e envelhecer dentro de quatro paredes nuas erguidas pelas minhas mãos. Morrer frente ao mar, sozinho, como num romance que lera havia anos. Esperar que a casa se esboroasse e me servisse, por fim, de túmulo.
Assim não aconteceu. Algum tempo depois, a casa transformou-se subitamente em prisão. E talvez tenha sido isso que me pôs, assim, triste para sempre. Custava-me a crer que aquilo que eu próprio construíra acabasse de me atraiçoar.
Assustei-me e fugi nessa mesma noite. Ignoro o que se passou com a casa. Não sei se ainda existe...o que sei é que a meio daquela fuga desesperada ocorreu-me o que me levaria, enfim, a encontrar o esconderijo para a minha imobilidade.
É desse lugar iluminado que, hoje, vos falo.

Fui ter com um fotógrafo meu amigo e pedi-lhe para me retratar.
Ele acendeu um foco de luz. Sentei-me no centro dele. A máquina disparou sem cessar.
Gesticulei, abri os braços, mexi-me muito - como se soubesse que nunca mais o voltaria a fazer.
Quando o meu amigo mergulhou o papel fotográfico no revelador, eu também mergulhei. Mas devo ter desmaiado uns segundos, talvez minutos, porque ao retomar consciência senti as pernas e os braços dormentes – e todo o meu corpo estava mole.
Um véu de luz toldou-me a visão. Ceguei por instantes, mas não foi uma sensação desagradável. Depois, o corpo começou a ondear, a impregnar-se no papel e a coincidir
com o retrato que o meu amigo fizera de mim.
Segundos mais tarde uma pinça metálica tirava-me do revelador.
Senti, então, a frescura da água – e toda a superfície da folha de papel, o meu novo corpo, brilhou. Em seguida deixei-me entorpecer na temperatura tépida, voluptuosa, do fixador.
Tinha encontrado o esconderijo.

E aqui estou diante de quem me visita e olha. Apesar de não ter deixado de ser um homem triste, adquiri a vantagem de estar sentado, e de já não precisar de fugir ou desejar o que for.
Mas o pior momento do dia é aquele em que nos separamos. Não consigo dormir. Fico noite fora com a minha solidão – e quem esteve a ver-me parte com o susto de continuar a existir.
Nenhum de nós é capaz de murmurar: fica comigo e toca-me. E a noite cai, de certeza mais escura para quem parte.
Eu sou apenas a imagem do que fui. Não sinto nada.

.... .... .... .... .... .... .... ....

A luz é o meu túmulo.
Em tempos, os meus gestos tiveram o rigor da abelha que rouba o pólen à flor. Com esses gestos quis construir um espaço para o silêncio. Uma morada onde fosse possível ignorar o mundo, ou esquecê-lo.
De vez em quando, aceito ainda o mistério das palavras que me cercam e não coincidem, em nada, com a realidade.
Eu só quis celebrar a vida. Encontrar o esconderijo onde fosse possível um derradeiro acto de paixão. Um esconderijo onde pudesse, de novo, tocar teu rosto e recuar a aridez da calúnia.
Mas a luz é o meu túmulo.
A pouco e pouco incendiaram-se os negros profundos, o círculo luminoso aprisionou me, e as mãos gesticularam sem sentido. O interior das paisagens guardou a tua ausência. E numa última visão a madrugada irrompeu do mar adormecido.
As mãos abriram-se novamente, quando o dia começou a devorar a nudez do corpo.
Comovido, perdi a voz.
Não podia chamar-te, lembro-me, por isso desatei a escrever o teu nome nas paredes da cidade. Tempo perdido. Já não podias ouvir-me nem ler-me. Foi quando desejei, com ardor este esconderijo.
Aqui, pelo menos, respiro ar condicionado, e um foco de luz simula a eternidade dos
dias.
Não há emoções, nem palavras ditas em voz alta. Não aconteceu nada, nem se ouve
respiração alguma.

Quem me visita diz coisas fantásticas a meu respeito. Nunca confirmo nem desminto.
Limito-me a ouvir e calo-me. Porque há coisas que devem correr com o tempo e, mais tarde ou mais cedo, nele se apagam.
É claro também há coisas guardadas na minha memória de papel. Mas essas, já não tenho a certeza de que alguém as tenha dito ou eu as tenha, de facto, ouvido.
Por vezes ponho-me a sorrir, mas ninguém consegue ver que sorrio, porque o retrato que me esconde – como eu- está morto e desfocado.
E a luz é o nosso túmulo.



Al Berto
“ O Anjo Mudo”

sexta-feira, maio 13, 2005

[este post surge como reacção a isto e a isto ]


Depois de ter ouvido a notícia da morte da Vanessa Filipa, pensei que a situação seria analisada com a máxima seriedade, mas foi então que me deparei com as monstruosas declarações do Padre de Lordelo do Ouro, Domingos Oliveira.

A primeira reacção que tive foi violenta. Apeteceu simplesmente ir ter com o homem e fazer-lhe passar por tudo que a pequena Vanessa passou. Dar-lhe, simplesmente ,um enxerto de porrada, tentar vê-lo “defender e gritar”, pedindo-me para parar e eu a continuar até que a cara do senhor padre ficasse toda vermelha, cheia de sangue. A minha vontande é de o matar.

Não consigo mesmo acreditar como é que alguém é capaz na missa de 7º dia proferir tais declarações. Não sei como é possível a família não se ter insurgido contra o padre. Não sei como é possível que só o PCP comente esta situação. Não sei como toda a sociedade não se insurge contra este monstro.

Afirmo isto devido:

-às declarações sobre a questão do aborto “O aborto é crime. E uma violência que se pode considerar maior do que a morte da Vanessa.”

-à responsabilização das uniões de facto que levam aos maus-tratos a crianças : “pela falta de amor que o pai e a avó tinham pela Vanessa que é resultado da desresponsabilização das famílias, que advêm das uniões de facto que ao invés de aumentar o amor, leva a que se considerem os filhos um estorvo”;

- à condenação dos "divórcios", das"uniões de facto" e dos " métodos contraceptivos, nomeadamente os preservativos";

- à hipocrisia do Padre, ao falar da hipocrisia da sociedade quando no fundo a religião é a responsável por milhares de mortes: “A nossa sociedade, que condena e bem a morte da Vanessa, é uma sociedade hipócrita, porque passa ao lado de situações que fomentam casos como o desta menina de cinco anos, que já está no Céu, junto de Deus”



A quantidade de questões, que este assunto me levanta, é interminável. Infelizmente, neste momento, não tenho o tempo para poder finalizar este post.

Desde já abro o próximo post: todas as mulheres que abortaram ou abortaram, segundo o padre Domingos Oliveira, cometeram um crime maior que a morte violenta de Vanessa [afirmação inaceitável que considera as pessoas que abortam piores pessoas que assassinos da referida morte].

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