quinta-feira, julho 28, 2005
Talvez viver seja isto, isto precisamente
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Talvez viver seja isto,
isto precisamente.
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Um ovo estrelado com pão,
uma taberna sob impiedosa trovoada
quando a cidade anoitece e se ouve
qualquer relato decerto importante
em que o herói se chama Sporting.
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Estas tabernas, lugares sombrios
onde sob o pouco aprumo dos tonéis
morreu ou foi morrendo um poeta
que os abutres da nação fazem questão
de aclamar. Tinto ou branco, vai sempre
dar ao mesmo, modo apenas de vomitar
uma ausência fulgurante.
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Entretanto, dizem-se aqui os "até amanhãs",
celebra-se a calma metafísica de uma sopa
amornada e doente. São os mesmos que amanhã
cá estarão, vacilantes e anónimos, dizendo
de novo "até amanhã" para que a eternidade
se finja repetir. São os mesmos até mais ver,
a sopa, o ovo estrelado, o futebol, a
recusada tristeza de envelhecer.
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E talvez viver seja isto, a cruel poesia
dos tonéis, o mármore de balcões engordurados,
este morrer
de um modo gentil, quase despercebido.
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Não importa quem lembra as tabernas
que lentamente se apagam,
os versos tristes que as cantam.
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Manuel de Freitas
Todos contentes e eu também
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domingo, julho 24, 2005
quinta-feira, julho 07, 2005
Explosões em Londres
Uma série de explosões que atingiram hoje, à hora de ponta, pelo menos três autocarros e seis estações do metropolitano de Londres causaram o pânico entre a população e um caos generalizado no centro da capital britânica
ver artigo completo aqui
quarta-feira, julho 06, 2005
Um Pirilampo
pode passar a noite numa folha de trevo, sem que daí resulte qualquer queimadura.
Se tivesse que eleger um mestre - hipótese que me repugna um pouco - de certeza que
me decidiria por um pirilampo como este.
Jorge de Sousa Braga
O Poeta Nu
terça-feira, julho 05, 2005
segunda-feira, julho 04, 2005
pressa deste café (estranho arquipélago de
percursos) sua história somos quem a
escreve (alguém a quem se autoriza uma
cadeira vazia, o gesto de calçar o pé mais
curto da mesa,.o render de empregados
cedo recolhendo a despesa) este poema
tem vírgulas, o meu primeiro cigarro (doze
passas de ano novo) tínhamos ambos quinze
anos deves ir quase nos trinta (eu dentro dos
vinte e seis) penso não ter conseguido crescer
tanto como tu. vive-nos pouco um cigarro:
podias ficar esse tempo os homens como
as garrafas devem ser despidos por dentro
João Luis Barreto Guimarães
domingo, julho 03, 2005
EP
Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota
Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar
Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo
Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar
Jorge Palma